sábado, 1 de outubro de 2011

Hope: propaganda sexista e de mau gosto. Conar abre processo


(Folha de S.Paulo/Terra/Exame.com/Carta Capital) A Secretaria de Políticas para as Mulheres (SPM) pediu ao Conar (Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária) que suspenda a campanha "Hope ensina", em que a modelo Gisele Bündchen aparece de calcinha e sutiã  "ensinando" as mulheres a usar a sensualidade para amenizar as reações de seus companheiros frente a incidentes do cotidiano.

Criada pela Giovanni+Draftfcb, a campanha começou a ser veiculada no último dia 20, e desde então a Ouvidoria da SPM recebeu diversas reclamações de indignação a respeito da propaganda e tomou a iniciativa de enviar dois ofícios. O primeiro ao Conar, pedindo a suspensão da propaganda, com base nos arts. 19 a 21 do Código Brasileiro de Autorregulamentação Publicitária, e do art. 30, II, do Regimento Interno do Conselho de Ética (RICE). O segundo, ao diretor da Hope Lingerie, Sylvio Korytowski, manifestando repúdio à campanha.
“A propaganda promove o reforço do estereótipo equivocado da mulher como objeto sexual de seu marido e ignora os grande avanços que temos alcançado para desconstruir práticas e pensamentos sexistas”, diz a Ouvidoria. “Também apresenta conteúdo discriminatório contra a mulher, infringindo os arts. 1° e 5° da Constituição Federal.”

"[A peça] Remete à imagem estereotipada e antiga, que valoriza mais dotes físicos do que a inteligência", diz Rachel Moreno, do Observatório da Mulher.
Jacira Melo, diretora do Instituto Patrícia Galvão, que também protestará no Conar, a polêmica foi estratégia de mercado: "Um grande comerciante, como a Hope, tem intenção número um de causar esse constrangimento na sociedade, para ser mais falada e mais vista". Conar abre processoSegundo a assessoria do Conar, com base em cerca de 15 denúncias de consumidores, o conselho decidiu abrir o processo após análise preliminar do caso, em que que verificou a existência de fundamento, no código brasileiro de autorregulamentação publicitária, para a aceitação da denúncia.

Caso o Conar entenda que a campanha fere o código do setor, pode recomendar a suspensão definitiva do comercial. A essa decisão, no entanto, ainda cabe recurso.

Para empresa, comercial é apenas piada
Em nota oficial, a Hope diz que "a propaganda teve o objetivo claro e bem definido de mostrar, de forma bem-humorada, que a sensualidade natural da mulher brasileira, reconhecida mundialmente, pode ser uma arma eficaz no momento de dar uma má notícia. E que utilizando uma lingerie Hope seu poder de convencimento será ainda maior."

"Foi exatamente para evitar que fôssemos analisados sob o viés da subserviência ou dependência financeira da mulher que utilizamos a modelo Gisele Bundchen, uma das brasileiras mais bem sucedidas internacionalmente. Gisele está ali para evidenciar que todas as situações apresentadas na campanha são brincadeiras, piadas do dia-a-dia, e em hipótese alguma devem ser tomadas como depreciativas da figura feminina. Seria absurdo se nós, que vivemos da preferência das mulheres, tomássemos qualquer atitude que desvalorizasse nosso público consumidor", conclui a nota. 
Polêmica como estratégia de mercado
Para a filósofa Jacira Melo, diretora do Instituto Patrícia Galvão, que também protestará no Conar, a polêmica foi estratégia de mercado: "Um grande comerciante, como a Hope, tem intenção número um de causar esse constrangimento na sociedade, para ser mais falada e mais vista". 

Assista aos comerciais
Leia também:
"Ao mesmo tempo em que consagra o modelo da mulher-objeto, a propaganda desqualifica aquela que não carrega o modo sedutor de ser. Uma conversa sem performances de sedução – e com roupas – é tida como “errada”. - Mais uma da Amélia Bündchen, por Clara Roman (Carta Capital - 27/09/2011) 

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