domingo, 18 de março de 2012

Generocídio: meninas indianas em falta - Um estudo recente parcialmente baseado no censo 2011 na INDIA diz que 7 mil fetos são abortados a cada dia apenas por serem meninas – o que chega a 1 milhão por ano.

Absurdamente Absurdo! Inaceitável .

Generocídio: meninas indianas em falta

Por James Tulloch
 / Créditos: Reuters
As gêmeas de sete anos de idade Shahana (à direita) e Shahala (à esquerda) caminham para a escola onde estudam na vila de Kodinji, no Estado de Kerala, no sul da Índia. Kerala tem uma das melhores proporções entre os sexos de crianças: 959 meninas para cada 1.000 meninos com idade de 0 a 6 anos. (Foto: Reuters)
Cada vez mais os indianos ricos, 'modernizados' e com alto nível educacional preferem não ter filhas mulheres, explica o professor Neelambar Hatti, do Departamento de História Econômica na Lund University, criando assim uma bomba-relógio.
Quantas meninas estão faltando na população indiana?Para crianças com idade de 0 a 6, os resultados preliminares do censo 2011 mostram um declínio na proporção entre os sexos de crianças em todo o país, que passou de 927 meninas para cada 1.000 meninos em 2001 para apenas 914 meninas atualmente. Um estudo recente parcialmente baseado no censo 2011 diz que 7 mil fetos são abortados a cada dia apenas por serem meninas – o que chega a 1 milhão por ano.

Onde esse desequilíbrio entre os sexos é mais evidente?
Quase todos os Estados pioraram, mesmo aqueles que apresentavam no passado uma proporção positiva no sexo das crianças, como as áreas tribais no nordeste do país. O Estado de Maharastra (incluindo Mumbai) mostrou um declínio espantoso, passando de 913 (em 2001) para 883 (em 2011), enquanto a Caxemira baixou de 941 para 859.
Surpreendentemente, estão surgindo números melhores em Estados que, tradicionalmente, não favoreciam as mulheres: o Punjab saltou de 790 para 846, e Haryana aumentou de 819 para 830. Espera-se que isso seja uma tendência.

Como o senhor explica essas melhorias?
Ainda é cedo demais para dizer. Talvez as pessoas estejam começando a perceber o valor de ter uma criança do sexo feminino. Isso aconteceu na Coreia do Sul. Lá havia o mesmo problema, mas recentemente o número de mulheres começou a aumentar porque a população se deu conta de que, para as famílias em uma sociedade afluente, é necessário ter duas fontes de renda.

Há quanto tempo vem ocorrendo essa proporção negativa entre os sexos?Isso vem acontecendo há muito tempo, mas se tornou mais alarmante a partir do censo de 1961, e ficou ainda mais evidente após o censo de 1971.
Ao longo de todo o início do século XX houve um declínio devido, basicamente, ao infanticídio e ao infanticídio tardio – matar aos poucos as meninas dando-lhes menos alimento e privando-as de cuidados médicos.
Mais tarde, e mais claramente de 1971 em diante, ocorreu uma mudança gradual no sentido de abortar fetos do sexo feminino, e mesmo as clínicas de fertilidade têm selecionado os fetos com base no sexo da criança.

Quais as consequências no longo prazo desse desequilíbrio entre os sexos na Índia?Perde-se uma imensa quantidade de poder produtivo. Nas áreas rurais, as mulheres são muito importantes para a agricultura, especialmente em áreas onde se cultiva arroz. São elas que preparam as mudas e as transplantam para os arrozais. Em algumas áreas que pesquisei, há falta de mão de obra feminina, e os homens não possuem as aptidões.
Professor Neelambar Hatti, Departamento de História Econômica, Lund University: "Há 10 ou 15 anos, as pessoas diziam que, quando houvesse escolaridade, as atitudes mudariam, mas hoje são exatamente as pessoas com maior escolaridade, as que estão bem de vida, que são as perpetradoras". (Foto: Neelambar Hatti)
Há também o problema, já de longa data, do vínculo entre o número decrescente de mulheres e o envelhecimento na Índia. Se as pessoas têm apenas filhos homens e se estes vão para o exterior ou para as cidades em busca de empregos melhores, quem vai cuidar dos idosos?

Que impactos isso terá sobre a posição das mulheres na sociedade?
Sabemos que os números em declínio de mulheres irão, em última análise, criar um grande contingente de homens solteiros e, provavelmente, muito frustrados. Isso poderá ter impactos em termos de um maior índice de crimes e aumento da violência contra as mulheres. 
Eu conversei com o comissário de polícia em Bangalore no inverno passado e ele disse que tinha visto mais casos de violência em relação às mulheres.

Quais as razões que levam à discriminação contra as meninas?
Tradicionalmente, as meninas têm sido desvalorizadas na sociedade hinduísta. Uma razão para a preferência pelos meninos é puramente ritualista. Eu tenho três filhas e nenhum filho. Toda vez que estou na Índia as pessoas me perguntam: "Você já tem um menino? Ainda não? Puxa, quem fará a cerimônia da cremação quando você morrer?". Espera-se que um filho homem acenda a pira funerária, do contrário, a alma do pai ficará perdida. 
Outro fator é que, quando uma moça se casa, ela vai embora, e assim todo o investimento feito numa filha é reduzido a nada, ao passo que, no caso de um filho, espera-se que ele tome conta de você na velhice.
No entanto, encontramos aí outro fator: uma insegurança crescente entre os pais à medida que a sociedade "se modernizou". Você tem de dar estudo à filha e mandá-la para a faculdade. Lá ela poderá se apaixonar por alguém de uma casta diferente. Isso é um desastre, porque o status da família inteira pode ser rebaixado. 
As pessoas estão perdendo o controle sobre os filhos. As meninas tornaram-se mais caras em muitos aspectos. Então o que você faz? Não tenha uma filha mulher – essa é a solução deles.

Então esse é basicamente um problema das classes em ascensão e com mais escolaridade? 
Esse problema é mais agudo em áreas urbanas e é muito mais um problema da classe média. Há 10 ou 15 anos, as pessoas diziam que quando houvesse escolaridade as atitudes mudariam. Mas hoje são justamente as pessoas com maior escolaridade, as que estão bem de vida, que são as perpetradoras. 
Além disso, há um processo de “mimetização” – as classes inferiores imitam as classes superiores para elevar seu próprio status. As classes rurais estão cada vez mais recorrendo ao aborto porque elas veem a classe rica fazendo isso.

Qual a facilidade de acesso a exames de ultrassom e abortos? Quanto isso custa? O aborto com base no sexo do feto é ilegal na Índia, mas não existe qualquer controle.
Um exame de ultrassom custa de 3 mil a 5 mil rúpias (60 a 100 dólares). No Estado de Karnataka é oferecido um serviço completo, um pacote com ultrassom e aborto. Em Délhi havia anúncios que diziam: "Por que pagar 5 lakhs (equivalente a 500 mil rúpias ou 10 mil dólares) no futuro? Pague 5 mil rúpias agora e livre-se do problema".

Por que os governos não fiscalizam o cumprimento da lei?Nós vivemos em uma sociedade que institucionalizou a corrupção. Os médicos são altamente corruptos, assim como os políticos. Poucos anos atrás, prenderam um médico que tinha uma clínica móvel que fornecia serviços de ultrassom e aborto em sociedade com um ministro.
Nós temos leis fantásticas na Índia, mas quem é que vai implementá-las? Somente algumas ONGs é que têm procurado expor as clínicas e acusá-las, mas ninguém se importa. 
Tentaram introduzir leis, anos atrás, para incentivar as famílias a terem meninas com a promessa de pagar o curso superior delas, mas isso não se enraizou. Se você manda uma filha para a universidade, ainda assim existe o risco de que ela conheça o rapaz errado.

Veremos novos declínios ou mais melhorias no censo 2011?
Eu acho que veremos um declínio ainda maior na proporção entre os sexos. A economia ainda está em transição. O sistema de valores está mudando, e nós ainda não estabelecemos um novo. Na Grã-Bretanha também existia essa preferência pelos meninos e levou muito tempo até o status das mulheres melhorar. Na Índia, isso ainda vai levar pelo menos mais uma década.
fonte:Allianz

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